top of page
  • Foto do escritorFernando Estima

ORGULHO DE SER QUEM EU SOU!

São Paulo, 15 de junho de 2022.

Fernando Estima*



Na semana da parada do Orgulho LGBTQIA+, de São Paulo compartilho um breve relato relacionado com a minha vida e com a nossa luta.



Crédito: Wix.


Toda vez que eu vejo um casal homoafetivo trocando beijos, abraços ou andando pelas ruas da cidade, nos mais diversos espaços públicos ou privados, meu corpo abre um sorriso e fico pensando: eu e minha geração lutamos muito para que isso acontecesse. E apesar de todos os retrocessos, nos últimos quatro anos, quando nossa comunidade foi ofendida, com piadinhas estúpidas, com menosprezo, com uma política de morte e invisibilidade, continuamos resistindo e nossas demostrações de afeto e carinho saíram dos bairros centrais e estão por toda parte.


Mas nem sempre foi assim, nos anos 1999, 2000, 2001 e 2002 ou seja há 20 anos fui da diretoria da Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+, com a função de assessor de imprensa da Associação e do evento. Sem dúvida nenhuma, o maior desafio da minha vida profissional como jornalista. E naquela época muita gente tinha medo de participar da Parada e sofrer represália no trabalho, na família e em outros setores da sociedade. Avançamos muito nos últimos 20 anos.


Cheguei na Associação da Parada, com vontade de ajudar. O evento já era grandioso e tinha um caráter reivindicatórios em relação aos direitos da população LGBTQIA+. Eu já tinha uma larga experiência trabalhando como assessor de imprensa de vários segmentos, como moda, restaurante, decoração e com o mercado editorial e como pode ser imaginar com muitos contatos com a imprensa, afinal isso era uma característica do meu trabalho.


Estava trabalhando com minha amiga e editora Laura Bacellar, nas Edições GLS, uma editora pioneira direcionada, para o público LGBTQIA+ e resolvemos fazer uma pequena ação na parada de 1998. Contratamos uma modelo e pedimos para a editora fazer um livro, do tamanho de uma pessoa. E fomos desfilar na avenida Paulista. Eu e a Laura cada um ao lado do livro. A ação de marketing não foi o sucesso que imaginávamos, mas muita gente, principalmente jornalistas, fotógrafos, produtores de mídia e outros profissionais nos interpelaram durante todo o trajeto, com perguntas sobre a manifestação. Quantas pessoas estavam no evento? Quem eram os lideres? E a gente não sabia responder. Depois do evento conversamos e decidimos que nós poderíamos ajudar na organização daquela manifestação e tornar aquele evento, ainda maior, do que ele já era.


Conversamos com um grupo de amigos e fomos atuar voluntariamente na organização da Parada. Esse grupo começou a dialogar com a diretoria da Associação da Parada fomos construindo sugestões para a melhoria do evento. Algumas dessas sugestões estão presentes até hoje e outras foram se transformando com o passar do tempo.


Entre muitas das contribuições, uma das mais importantes, foi a mudança da data. Só para explicar, de maneira resumida, aqui nesse espaço. A Parada de São Paulo seguia um calendário, das paradas internacionais e sempre ia as ruas, próximo do dia 28.06, data, que em 1969 aconteceu um levante da comunidade LGBTQIA+, no bar Stonewall, em Nova York. Nosso grupo propôs que a Parada de São Paulo fosse sempre realizada no domingo posterior ao feriado de Corpus Christi, um feriado religioso, que sempre acontece nas quintas-feiras.


Qual era nossa intenção estratégica, com essa mudança? Nós desejamos atrair turistas para a cidade de São Paulo, no feriado de quatro dias, para isso precisávamos de um feriado prolongado e da construção de uma programação para os quatro dias (quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo), que culminasse com a celebração da Parada do Orgulho LGBTQIA+ no último dia.


Esse grupo trabalhou de maneira intensa, organizada e estratégica, para transformar a Parada de São Paulo, em uma das maiores do mundo e uma das mais importantes manifestações da sociedade brasileira. Enfrentamos muitas dificuldades, barreiras e preconceito. Mas com uma sinergia e uma vontade de ocupar espaços, e com os nossos corpos transformar uma situação de invisibilidade e uma intensa pauta de reivindicação de direitos.


Alguns amigos que sabem da dedicação desse grupo, que fez um trabalho voluntário e de bastidores para o crescimento do evento, as vezes questionam se nós não merecíamos maior reconhecimento pela nossa contribuição a nossa luta. Eu dou risada quando alguém toca nesse assunto.


E sempre respondo: toda vez que eu presencio no metrô, no aeroporto, na padaria, no supermercado, nos lugares mais comuns ou quando abro as redes sociais e vejo a população LGBTQIA+ trocando beijos, abraços ou andando de mãos dadas tenho certeza, esta é nossa recompensa.


Nessa semana, quando a cidade ficar colorida, com a bandeira do arco-íris e quando a Av. Paulista novamente ficar lotada, quando os veículos de comunicação mencionarem o evento como um exemplo de cidadania, nossa geração vai ter uma certeza. A nossa contribuição valeu a pena. Como diz a canção do Milton Nascimento e do Caetano Velozo “Qualquer maneira de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale amar”.


E só mais um recado: estamos todos com mais 50 anos, próximos dos 60 anos ou com um pouco mais de 60. E testemunhamos momentos terríveis, com o golpe militar e a AIDS por exemplo, só para citar dois. Mas pode acreditar não chegamos aqui sem muita luta e vamos continuar lutando por democracia e por uma sociedade mais justa e equânime.


* Fernando Estima é jornalista, professor, líder de comunicação e educação da Plurie Br, Doutorando do Programa Mudança Social e Participação Política, da EACH-USP, pós graduado em Markting e Planejamento Turístico pelo SENAC – SP e, Mestre em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi.






309 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page