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O XV de novembro de 1889 e os primeiros anos da república no Brasil

Vassouras, 15 de novembro de 2021.

Antonio Carlos da Silva*

O dia 15 de novembro de 1889 marcou uma virada política no Brasil. Após décadas do sistema monárquico, o republicanismo chegava ao poder através de um golpe de estado que mobilizou pouco mais de duzentos militares. O imperador deposto foi expulso do país junto com sua família ainda na madrugada do dia 16 de novembro. Militares da Marinha e alguns políticos sugeriram uma reação, mas o imperador achou melhor não incentivar uma guerra civil. Há relatos que D. Thereza Christina pouco antes de embarcar no bote que a levaria até o navio, agachou-se e beijou o solo do Brasil em um ato de despedida. A monarquia deixava o Brasil pela porta dos fundos. Enquanto isso, o governo provisório se articulava buscando apoio entre os militares da Marinha e antigos políticos do império. Rui Barbosa, por exemplo, foi um daqueles que aderiu ao novo sistema e, décadas depois, faria um famoso discurso mostrando-se arrependido e envergonhado desse sistema que apoiara. Ofícios foram enviados às Câmaras Municipais e essas optaram por aguardar o desenrolar dos fatos. A crise entre a monarquia e a Igreja Católica, os desentendimentos com os militares e a abolição da escravidão foram problemas que acabaram isolando a monarquia e esses grupos pretendiam pagar para ver onde tudo isso iria levar.



Crédito: "A Pátria" (1919), Pedro Bruno. Acervo Museu da República.


O imperador foi embora e o Brasil teria agora um presidente. Isso era tão novo para o país que o Marechal Deodoro nem imaginava que seria obrigado a renunciar exatamente dois anos depois, deixando o cargo para o seu vice-presidente, o também general Floriano Peixoto. Durante os dois anos que ficou no poder, o segundo presidente da república também não soube lidar com a situação política de forma pacífica adotando uma linha de gestão bem mais autoritária. Havia, inclusive, um temor que Floriano Peixoto não entregasse a presidência da república a Prudente de Morais, o novo presidente eleito do Brasil, mas essa hipótese não se concretizou e ele transmitiu o cargo normalmente em novembro de 1894.

O que ficou muito evidente nos primeiros anos da república no Brasil é que os presidentes militares não estavam preparados para lidar com as antigas estruturas políticas do país. O sistema era novo, mas os políticos eram os mesmos de sempre. Campos Sales assumiu a presidência do país em 1898 e foi o responsável em estabelecer a “política dos governadores”, o que, na prática, constituía-se como um grande acordo político com os grandes produtores rurais do país estabelecendo o coronelismo. Era a volta dos fazendeiros ao poder. Aqueles que antes ostentavam seus títulos de barões, agora usavam suas patentes de coronéis da Guarda Nacional para dominarem a política. Se no império havia um jogo político entre o Partido Conservador e o Partido Liberal, na república, esse dualismo se daria entre o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro. Esse novo momento ficaria conhecido como "republica do Café com Leite", onde os interesses mineiros e paulistas se alteravam no poder.

Ao discursar no senado, em 1921, o senador Rui Barbosa fazia uma comparação entre a política no império e na república. Na ocasião, dizia sentir vergonha da política que se instalara no país após a ascensão da república. É fato que ele não citou nomes, mas falava abertamente da corrupção e de como a república não cumprira com suas promessas. A constituição de 1891 excluía da participação política os analfabetos e as mulheres. Naquela época, os negros representavam 60% da população, dos quais 73% eram analfabetos. Isso demonstra que a maior parte dos brasileiros não tinha acesso ao voto e os poucos que ainda tinham esse privilégio sofriam a opressão do famoso voto de cabresto onde os coronéis indicavam os candidatos a serem votados.

Ainda nessa época um grande número de imigrantes europeus chegava ao Brasil para trabalharem principalmente nas lavouras cafeeira de São Paulo. Ressalta-se ainda que, no final do século XIX, o Brasil adotava uma política de branqueamento incentivada pelas ideias de Silvio Romero e nem a imigração asiática era incentivada no país. A imigração japonesa só seria formalizada e estimulada a partir de 1908 quando verificou-se que o número de europeus não seria suficiente para atender a necessidade de braços para a lavoura.

Esse período da história do Brasil ainda precisa muito ser estudado, mas é fato que o sistema republicano em seus anos iniciais não retirou o poder político dos grandes proprietários rurais. De fato, o poder desse grupo econômico só foi ameaçado em 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder e seu projeto nacional desenvolvimentista.


* Antonio Carlos da Silva é Doutor em História (UERJ), Professor do Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB-FERP) e Criador do Canal Doutor História.


Referencias Bibliográficas:


BACKES, Ana Luiza, Fundamentos da Ordem Republicana: Repensando o Pacto de Campos Sales, Editora Plenarium, 2006

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

CHAVES DE MELLO, Maria Tereza, A República Consentida. Rio de Janeiro: Editora FGV, EDUR, 2007.

JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco, Os Subversivos da República. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

MARCONDES, Ayrton, Campos Salles - Uma investigação na República Velha. Bauru: Editora Universidade Sagrado Coração, 2001.

OURO PRETO, Visconde de, A Década Republicana. Brasília: Editora da UNB, Brasília, 1986.

PORTO, Walter Costa, O voto no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 2002



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