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  • Foto do escritorLuzimar Soares

Excesso de trabalho

Guarulhos, 15 de agosto de 2023.

Luzimar Soares*


Ultimamente tenho pensado bastante na cotidianidade de milhões de pessoas que trabalham e precisam dar conta de tantas tarefas que parece ter acontecido uma diminuição do tempo, como se os dias tivessem diminuído, as obrigações não cabem nas horas, e a sensação de fracasso acaba aparecendo. Não somente isso, mas o frenesi da vida moderna e o medo de perder o emprego, leva muitas pessoas a desenvolverem uma patologia nomeada como burnout.



Crédito da imagem: Freepik.



Não me lembro exatamente de quando ouvi a palavra burnout pela primeira vez, mas me incomodou ao descobrir o que significa com precisão esse vocábulo, o desconforto causado está diretamente ligado à correria da modernidade, ao excesso de trabalho e à desvalorização do ser humano. Com o desenvolvimento das tecnologias que nos deixam ligados o tempo todo, nos aproximamos cada vez mais de quem está longe e nos distanciamos de quem está próximo, também estamos mais tempo ligados aos nossos trabalhos.


Cada dia mais um número muito maior de profissionais dos mais diversos ramos de atividades se dedica aos seus trabalhos por um número de horas superior àquelas que estão estipuladas em seus contratos de trabalho, com muitos trabalhadores vivendo eternamente à disposição de seus chefes, ligados em seus aparelhos celulares e, mesmo em seus dias de descanso, ficam ligados.


Desde os anos de 1970, que o excesso de trabalho de alguns profissionais vem sendo estudado e foi nesse período que o conceito Burnout começou a ser empregado. De acordo com o estudioso português Paulo Joaquim Pina Queirós:


Burnout é um termo que foi pela primeira vez utilizado por Freudenberger em 1974 para designar a situação que se manifesta “através de uma verdadeira crise de identidade colocando em questão todas as características da pessoa, no plano físico, psíquico e relacional”. Em 1975, esse autor definiu burnout “como um conjunto de sintomas médico-biológicos e psicossociais inespecíficos, produto de uma exigência excessiva de energia no trabalho” e que ocorre particularmente nas profissões envolvidas numa relação de ajuda. Situação que se caracteriza por “um estado de fadiga ou frustração resultante da devoção a uma causa, estilo de vida ou relação que falhou na produção da expectativa esperada” (Freudenberger, 1980).


Quando os estudos sobre Burnout tiveram início, partiram de profissionais ligados à medicina, todavia, hoje já se expandiu para as outras áreas notadamente profissionais da educação que em grande medida sofrem dessa síndrome, além de outros profissionais. O frenesi da cotidianidade, a quantidade de responsabilidades que cada trabalhador carrega, a obrigatoriedade de ser o melhor, tem transformado os trabalhadores nos novos escravizados, os escravizados do neoliberalismo.


Todo trabalhador independentemente da profissão escolhida, dedica muito tempo de sua vida a exercer a profissão. Alguns profissionais ficam mais tempo em seus locais de trabalho do que em suas casas, isso porque uma quantidade enorme de trabalhadores ainda estuda, outros, em razão de alguma busca pessoal, ou por terem salários baixos, trabalham em dois lugares, isso sem falar nas mulheres que além do trabalho externo, tem os afazeres domésticos, os cuidados com os filhos e etc. São tantas as obrigações e tempo nos deslocamentos, para o trabalho para as universidades e escolas que o espaço reservado para o descanso e convívio familiar fica diminuído.


No meio dessa correria e das obrigatoriedades de ser bem sucedido, muitos trabalhadores desenvolvem a síndrome de burnout e sequer conseguem perceber. Um artigo da Revista Brasileira de Psicologia, publicado em 2017 e assinado pelos estudiosos Crichna Aguiar Gonçales Relber Aguiar Gonçales apontam que o trabalho é o grande responsável pela síndrome. De acordo com seus apontamentos:


No Brasil, o trabalho é considerado a principal fonte de estresse, sendo apontado por 58% da população como ação estressante, superando o índice de problemas sociais, que é apontado por 42% como estressante (Silva, 2006). Tais índices não diferenciam áreas ou funções, levando em conta os trabalhadores em geral. Para Benevides-Pereira (2002), os enfermeiros são, ao lado dos professores, os profissionais mais suscetíveis ao estresse. De um modo geral, a Síndrome de Burnout apresenta as seguintes características: sintomas emocionais, sendo que se realizam avaliações negativas do desempenho profissional, esgotamento, sentimento de fracasso, de impotência e baixa autoestima. Esses transtornos podem acarretar ainda em manifestações físicas ou transtornos psicossomáticos, envolvendo fadiga crônica, dores de cabeça, insônia, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquicardia, arritmias, perda de peso, dores musculares, alergias e lapsos de memória.


O apontado acima pelos estudiosos, gera preocupação pois, quando se desenvolve todos esses problemas de saúde, é impossível ter um bom rendimento no trabalho e na vida social e familiar, sem bom desempenho profissional, passa-se para um outro estágio que é da insatisfação constante que pode vir acompanhado de outros problemas como os apontados pelos estudiosos acima.


Alterações comportamentais envolvem um maior consumo de cafeína, de álcool e de remédios, evasão do ambiente de trabalho, baixo rendimento pessoal, cinismo, impaciência, sentimento de impotência, incapacidade de concentração, depressão, baixa tolerância à frustração, ímpeto de abandonar o trabalho, comportamento paranoico (tentativa de suicídio) e/ou agressividade.


Obviamente que nesse espaço não é possível falar com profundidade sobre os perigos do Burnout. Eles são muito e afetam uma gama enorme de trabalhadores no mundo todo. È preciso que olhemos com mais cuidado para as pessoas em seus locais de trabalho, respeitar o profissional, especialmente aquele que lida diretamente com o público, mais especificamente da área de saúde e da educação que são os mais afetados, saber cuidar de seus trabalhadores é indispensável para uma sociedade mais saudável e pronta para a convivência social.


Como já é considerado uma patologia ocupacional, já demos um passo para cuidamos melhor das e dos profissionais que se dedicam dia após dia para tornar nossas vidas menos complexas.


Vivemos em uma sociedade competitiva, o tempo escasso, há uma busca por atingir metas cada vez mais difíceis, esses fatores podem conduzir o trabalhador a um quadro de desânimo, de apatia, conduzindo-o aos agravantes do século, como por exemplo, depressão, estresse excessivo, doenças cardiovasculares, transtornos compulsivos, entre outros. Conforme a lei, o Burnout é um problema de saúde ocupacional, em que as condições de trabalho são os fatores etiológicos, o empregado pode e deve procurar indenizações materiais e morais do seu empregador.



Referências:

GONÇALES, Crichna Aguiar e GONÇALES Relber Aguiar. Síndrome de Burnout: causas e consequências em diversos profissionais. IN: Revista Brasileira de Psicologia, 03(02), pgs. 49 - 65. Salvador, Bahia, 2017. Disponivel em:https://www.researchgate.net/profile/Relber- Goncales/publication /318913130_Sindrome_de_Burnout_causas_e_consequencias_em_diversos_profissionais/links/5984cf740f7e9b6c852f4f3d/Sindrome-de-Burnout-causas-e-consequencias-em-diversos-profissionais.pdf . Acesso em: 10 de aug 23.

QUEIRÓS, Paulo Joaquim Pina. Burnout em enfermeiros: comparação de três grupos. IN: Sinais Vitais N. 16. janeiro de 1998, p. 17 – 21. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/276419149_Burnout_em_Enfermeiros_Comparacao_de_tres_grupos. Acesso em: 11 aug. 23.


*Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP/USP).



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