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Eventos acadêmicos: suas implicações para as pesquisas

Guarulhos, 01 de junho de 2023.

Luzimar Soares*


No imaginário popular, ou no senso comum, a pesquisa está muito relacionada aos laboratórios de análises clínicas, às imagens de tubos de ensaios, jalecos brancos, óculos de proteção, dentre outros apetrechos para estudos que compõem o cabedal imaginário daquilo que compõem as pesquisas.


Crédito da imagem: Wix.


Para aqueles que trabalham com pesquisas acadêmicas, os laboratórios cedem lugar às mesas, aos livros, aos computadores e à solidão dos escritórios. Nos períodos de confinamento para levantamento de dados, análises de pesquisas ou escrituras de resultados, quando a pesquisa é executada por uma única pessoa, algumas vezes, não há espaço para o debate dos resultados.


Os eventos acadêmicos são oportunidades de compartilhar as pesquisas, trocar experiências, receber indicações de novas referências bibliográficas, comparar seus estudos com os de outros expositores. Isso agrega conhecimento, desperta curiosidade sobre os outros trabalhos, além de contribuir para o enriquecimento das pesquisas.


Sendo assim, algumas perguntas me veem à cabeça: por que é tão difícil participar desses eventos? Refiro-me aos custos com deslocamentos e acomodação, alimentação, criação de material para apresentação, que inclui, dentre outras coisas, custos com revisões, traduções e montagem de slides, e afins. Muitos dos pesquisadores de pós-graduação que recebem incentivos públicos para a pesquisa precisam de um trabalho a mais, quase sempre informal, haja vista não ser possível ter um trabalho formal e receber bolsa de estudos.


Mas, esses incentivos financeiros são o suficiente para suprir as necessidades básicas de um cientista? Bem, sabemos que os incentivos para pesquisas além de não atenderem a todas as demandas, ou seja, muitos pesquisadores não conseguem bolsas nos processos seletivos em razão da parca quantidade, os processos seletivos são necessários, sendo assim, muitos ficam de fora.


Para os que conseguem êxito nos processos seletivos, os desafios são muitos, e manter a remuneração exige trabalho duro e muita dedicação. As pesquisas, especialmente na área das ciências sociais, necessitam de muito tempo para acontecerem. Dependendo da metodologia que é usada, é necessária autorização de órgãos para dar continuidade às pesquisas, além dos deslocamentos para as investigações (ainda que estejamos falando de um contexto tecnológico atual), basicamente, todas as pesquisas exigem que os pesquisadores se desloquem para desenvolver seus trabalhos.


É sabido que neste ano de 2023, houve, depois de uma década, reajuste dos incentivos estudantis. Uma das agências que fomentam as pesquisas no país, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), publicou os novos valores para bolsas estudantis.


As bolsas da CAPES atendem 178 mil estudantes de mestrado, doutorado, pós-doutorado, iniciação à docência, além de coordenadores, tutores e preceptores que atuam nos programas de formação de professores da educação básica. O valor da bolsa de mestrado sobe de R$ 1.500 para R$ 2.100. Já o de doutorado vai de R$ 2.200 para R$ 3.100. No caso do pós-doutorado, o benefício passa de R$ 4.100 para R$ 5.200. O auxílio para a iniciação à docência irá de R$ 400 para R$ 700.


Os valores com reajuste são um alento, haja vista que a permanência dos valores anteriores estava inviabilizando totalmente a continuidade de muitos estudantes. Como, ao ser agraciado com uma bolsa de estudo, dependendo do tipo de bolsa, não se pode ter vínculo empregatício, uma infinidade de pesquisadores é obrigada a conseguirem os famosos “bicos” para conseguirem manter suas vidas.


Além de manterem as suas vidas e afazeres, independente de terem ou não incentivos monetários, todos os pesquisadores, em especial aqueles de pós-graduação, precisam apresentar seus trabalhos em eventos acadêmicos. Assim, é necessário comparecer aos eventos para comprovar suas pesquisas.


Independentemente da obrigatoriedade, os eventos são uma ferramenta indispensável para troca de experiências, descobertas de outros trabalhos, trocas de referências bibliográficas, conversas e, especialmente, a socialização das pesquisas entre os pares. As avaliações de outros pesquisadores são capazes de produzir corroborações ou, até mesmo, mudanças de rota na pesquisa. A ciência compartilhada é uma atividade social, sendo assim, esses eventos compõem as trajetórias das pesquisas.


Desse modo, o suporte financeiro não pode mais se restringir à manutenção da vida diária, é preciso que os eventos sejam financiados, não apenas para organizar, mas para os pesquisadores e os deslocamentos. Ainda que aconteçam na cidade onde a pesquisa é efetuada, é preciso elaborar o que será apresentado, deslocar-se até a organização onde acontece o evento, e, quando o congresso não acontece perto, mais custos são adicionados. É preciso se alimentar, pagar hospedagem, e claro, o transporte.


A inegável importância desses eventos é debatida por estudiosos que, partindo de suas experiências, elencam as necessidades dos eventos científicos. Para João dos Santos Carmo da Universidade da Amazônia, Belém, e Paulo Sérgio Teixeira do Prado da Universidade Estadual Paulista, Marília, os eventos possibilitam as trocas:


A ciência, com uma atividade social, precisa ser divulgada, debatida, refletida. Uma das funções dos cientistas é exatamente a de possibilitar um amplo debate em torno de suas ideias, descobertas, teorias e proposições em geral. Daí a necessidade de se organizarem ocasiões especiais destinadas ao intercâmbio entre profissionais e à divulgação do conhecimento que produzem. Essas ocasiões podem ser acadêmicas ou, mais restritamente, científicas. Constituem-se nos congressos, simpósios, seminários, encontros, reuniões, os quais congregam comunidades de cientistas, pesquisadores, estudantes de vários níveis e outros interessados no debate e na divulgação científica.


Como comparecer a esses eventos sem incentivo financeiro? Cada pesquisador precisa cumprir todo um processo: primeiro, já com parte de sua pesquisa pronta, inscreve-se no evento, não sem antes pagar pela inscrição. Os valores variam de acordo com o tipo de evento e de participação. Em seu trabalho sendo aceito, os deslocamentos, alimentações e hospedagens passam a ser a próxima preocupação. Pesquisam-se os melhores preços e locais, e se refazem os próprios orçamentos para caber.


Para os estudantes de pós-graduação, participar desses eventos não é opcional, é preciso produzir, publicar, participar de congressos, simpósios, e criar um currículo lattes atraente para se manter na pesquisa. É preciso que lutemos por muito mais, a ciência, a pesquisa, e as lutas dos estudantes precisam de mais atenção. Não se faz ciência sem incentivo, não se cria sem comer, não se participa de evento sem dinheiro para chegar e se manter nos lugares.

A Universidade inclusiva e para todos precisa urgentemente repensar a pesquisa e considerar a importância dos eventos acadêmicos de forma mais racional e monetária. Pesquisas têm que ser divulgadas, discutidas, levadas a eventos, e, para isso, pesquisadoras e pesquisadores precisam de financiamento.



Referências:

CAPES publica novos valores das bolsas. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/capes-publica-novos-valores-das-bolsas. Acesso em 28 maio 2023.

BOLSISTAS elogiam a iniciativa do governo federal e dizem que o reajuste é fundamental para assegurar as pesquisas no Brasil

CARMO, João dos Santos; DO PRADO, Paulo Sérgio Teixeira. Apresentação de trabalho em eventos científicos: comunicação oral e painéis. Interação em Psicologia, Curitiba, out. 2005. ISSN 1981-8076. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3293/2637>. Acesso em: 28 maio 2023. doi:http://dx.doi.org/10.5380/psi.v9i1.3293.


*Luzimar Soares é historiadora (UERJ).

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