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  • Foto do escritorRogério Marques de Paiva

Guerra em Hollywood: o cinema dos EUA

Atualizado: 9 de abr.

Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2024.

*Rogério Marques de Paiva


Quem são os heróis dos filmes de Hollywood? As salas de cinema podem servir como campos de treinamento militar? Qual o papel das novas personagens femininas nos filmes de ação e aventura? Você já parou para pensar que todos os filmes transmitem ideologias que podem influenciar nosso modo de pensar e viver? Isso não é novidade, mas é fato que, às vezes o que parece óbvio se mostra invisível para os olhos.

 



O Cinema, com seus discursos e representações, pode influenciar seu público e fornecer material ideológico com o objetivo de legitimar o estabelecimento de projetos políticos, militares e econômicos de grupos poderosos. Ele pode se organizar com os demais meios de comunicação e ser porta-voz da máquina ideológica governamental na propagação e naturalização de supostas verdades absolutas, maniqueísmos e padrões de comportamento. Com a mesma intensidade, mas talvez não na mesma abrangência, o Cinema pode se posicionar de maneira crítica ou contrária às diretrizes do governo e criticar inúmeros aspectos da sociedade, das elites econômicas, intelectuais e, por fim, do status quo.




Crédito da imagem: Unplash.

 

Meu livro Guerra em Hollywood - O Cinema dos EUA contra Comunistas, Terroristas e alienígenas é um estudo sobre Cinema, que demonstra como os filmes podem ser utilizados como peças de propaganda ideológica. A obra é o resultado do aprimoramento da minha dissertação de mestrado, que, em um primeiro momento teve a programação televisiva brasileira como objeto de análise. A mudança para o estudo do Cinema dos EUA foi por este, ser uma forma de Arte mais abrangente, lucrativa e influente.

 

É interessante analisar como nossos pensamentos, comportamentos e opiniões são muitas vezes moldados e padronizados pelos meios de comunicação. Por isso, precisamos entender os códigos dos sistemas visuais e compreender que as ideologias presentes em filmes e séries estão diretamente relacionados com o período histórico em que foram produzidos.

 



Crédito da imagem: Acervo do Autor.


O modo como as sociedades percebem o mundo na contemporaneidade está totalmente ligado aos sistemas visuais. Estes se manifestam desde histórias em quadrinhos até a Sétima Arte. A fotografia, as HQs, a televisão, a internet e o cinema são meios de comunicação de massa. Mas, ao contrário de outras manifestações artísticas mais individuais, o Cinema, pode ser considerado resultado de uma arte coletiva cuja função primordial é alcançar um grande número de pessoas.



Crédito da imagem: Unplash.



Um filme é um documento histórico e, dessa maneira, optei pela análise de três produções estadunidenses dos anos 1990 cujos enredos apresentam distintas representações dos direcionamentos da política externa dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria. Dessa forma, demonstrei como a indústria cinematográfica hollywoodiana pode conceber filmes que servem de propaganda política e cultural da nação, classificados então como panfletários. Entretanto, essa indústria também pode produzir filmes que contenham críticas ao Governo e à sociedade como um todo. Estes são os filmes contraideológicos. Meu foco foi Hollywood, mas o Cinema ideológico produzido na Rússia e na Alemanha também foram citados.



Crédito da imagem: Unplash.

 

As peculiaridades da política externa dos Estados Unidos estão intrinsecamente relacionadas com os elementos originais da formação do país, de seu povo e de suas tradições. Admite-se a ideia de que há uma tendência nos chamados filmes históricos, por exemplo, em se utilizar do passado para evidenciar os problemas sociais e políticos contemporâneos.

 


Crédito da imagem: Acervo do autor.



No primeiro capítulo, iniciei a discussão sobre o que é a indústria cultural e os desdobramentos da cultura midiática e dos usos das imagens como fonte de pesquisa histórica. Então, nos capítulos a seguir, realizei detalhadas análises de dois blockbusters.

 

No capítulo 2, apresentei uma abordagem crítica da superprodução Independence Day (1996), de Roland Emmerich. A trama aborda uma invasão alienígena à Terra e demonstra como que arquétipos de heróis norte-americanos lideram a salvação da humanidade justamente no dia 4 de julho, data em que é celebrada a independência dos Estados Unidos. A análise político-ideológica do filme é construída simultaneamente com a descrição da trama, pois dessa forma, o estudo torna-se mais dinâmico, interessante e eficaz.

 

Independence Day é um produto propagador da ideologia governamental que procurava reafirmar o poderio militar e a superioridade dos Estados Unidos no novo contexto político que se iniciava com a dissolução da União Soviética. É um exemplo da necessidade dos Estados Unidos de delimitarem seus inimigos. O filme panfletário ainda enaltece ao extremo o militarismo e a figura do presidente, assim como do afro-americano e do judeu naquela sociedade. A análise encontra-se embasada nas clássicas e polêmicas teorias de Theodor Adorno e Max Horkheimer da Escola de Frankfurt.


Crédito da imagem: Google.


No capítulo 3, analiso o filme Tropas Estelares (Starship Troopers, 1997), de Paul Verhoeven, uma sátira política da sociedade e do governo norte-americano. Um blockbuster comercial que se posiciona contra a ideologia dominante governamental, ao contrário da superprodução de Roland Emmerich, que a reafirma. O ineditismo desse caso é interessante, pois é um blockbuster, mas apresenta um conteúdo satírico e crítico da política estadunidense. Os produtores optaram por seguir um direcionamento ousado ao demonstrar que, em períodos de guerra, qualquer nação se tornaria fascista. Porém, o diretor foi mal interpretado e acusado de fazer apologia justamente ao fascismo que ele critica. Pode ser observado que Tropas Estelares inspira-se tanto em filmes de propaganda nazifascistas como também em filmes dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, e sua narrativa baseia-se também na cobertura midiática da Guerra do Golfo.



Crédito da imagem: Google.

 

A Era Reagan deu origem a uma série de filmes cujas tramas estavam condicionadas à propagação da ideologia política governamental. Apresentei um estudo a respeito da política externa dos Estados Unidos e de como esta foi classificada de acordo com as categorias chamadas de Realismo e Idealismo no período da Guerra Fria. Portanto, ao realizar esse estudo a respeito do Cinema, sobre sua condição de arte complexa e os usos desse meio de comunicação como arma ideológica do Governo dos Estados Unidos, reiterei que Hollywood não pode ser considerada apenas como porta-voz da ideologia dominante governamental, na medida em que existem filmes que seguem direções contrárias.

 

O capítulo 4 tem por objetivo mostrar uma autocrítica empreendida por Hollywood ao tratar da possibilidade da manipulação midiática em um mundo onde informação e as imagens possuem um papel preponderante. O filme Mera Coincidência (Wag the Dog, 1998), de Barry Levinson, denuncia o caráter manipulador da mídia quando um produtor de Hollywood é contratado para criar uma falsa guerra para distrair a atenção do público de um escândalo presidencial.



Crédito da imagem: Google.

 

O filme é uma constatação de que Hollywood tem plena consciência de sua influência e poder, baseando-se diretamente nos desdobramentos que levaram os Estados Unidos ao conflito armado contra o Iraque no começo da década de 1990, e na campanha de manipulação e desinformação que tentaram angariar apoio total da opinião pública para a guerra. O referido caráter manipulativo baseia-se no fenômeno do começo da década de 1990 de transformação da Guerra do Golfo em um espetáculo midiático. E todos os filmes analisados têm a Guerra do Golfo como um tema central. O público do Cinema não é totalmente passivo, mas os produtos ausentes de profundidade são justamente os que ocupam maior espaço na mídia. O Cinema, assim como a televisão, oferece em demasia entretenimento de diversos tipos. A sociedade pode estar, na verdade, desinformada devido à informação manipulada ou pelo excesso da mesma.

 

O filme Mera Coincidência é considerado prova cabal de que Hollywood tem consciência de seu papel na construção da informação. Isso também fica exposto por meio da análise de documentários e de material relevante a respeito das ligações entre Washington e Hollywood. Nessa nova era da Sociedade da informação com a ultra velocidade de criação e manipulação de imagens e sons com as Inteligências artificiais, fake news e filmes panfletários, precisamos auxiliar e incentivar as pessoas a desenvolverem seu ceticismo e capacidade crítica para interpretarem as informações e não serem meros receptores passivos dos meios de comunicação.



Guerra em Hollywood - O Cinema dos EUA contra comunistas, terroristas e alienígenas. Paraná: Viseu, 2022. Adquira o livro aqui: Amazon.



*Rogério Marques de Paiva é Mestre em História e professor do município do Rio de Janeiro. Possui interesse em Cultura Pop, Artes Visuais, nas relações entre História, Cinema e meios de Comunicação de Massa.



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