top of page
  • Foto do escritorLuzimar Soares

Viva o Carnaval!

Guarulhos, 20 de fevereiro de 2024.

Luzimar Soares*


O carnaval é considerado  a maior festa popular do Brasil e, nos dias da festividade, as cidades ficam lotadas, ou completamente esvaziadas dependendo de como são as programações. Cada localidade que promove o carnaval, recebe turistas vindos dos mais diferentes destinos e dependendo da cidade, a festividade pode durar até uma semana.



Crédito da imagem: Wix.


A primeira vez que estive em um baile de carnaval foi no ano de 1982, em uma cidade do interior que em nada se parecia com o que vivemos hoje. O meu primeiro contato com a festa foi em um baile de matinê no domingo de carnaval de 21 de fevereiro. Em um domingo ensolarado, fui autorizada a ir ao baile e, de certa maneira, tudo parecia estranho. Eu nem conhecia as músicas, mas me recordo de me divertir muito e sair de lá suada e feliz.


Depois disso, fiquei alguns anos longe da folia, voltando a ter contato de novo em 1986. Já mais familiarizada com a vida carnavalesca, apreciei o baile, comecei compreender seu significado e, assim como muita gente, a gostar, especialmente da alegria e da leveza que sinto quando consigo experenciar a festa. É bem verdade que minhas experiencias carnavalescas são poucas, mas são especiais.


O ano de 2005 marcou minha primeira passagem pelo sambódromo de São Paulo e é  quase impossível descrever a sensação. Antes da grande noite, tem os ensaios na quadra da escola pela qual desfilei, a Acadêmicos do Tucuruvi. A emoção de ouvir a bateria ensaiando indo e voltando para afinar instrumentos e tocar impecavelmente no sambódromo é encantador, a dedicação de cada músico e das pessoas que fazem parte da escola, ensaiando a letra do samba, é realmente contagiante.


O dia do desfile é complexo, as escolas precisam contar com o compromisso das pessoas que se comprometeram a desfilar, cada ala tem um número pré-determinado de componentes. Na concentração, várias pessoas da organização vão passando pelas alas e verificando as condições das fantasias. Muitos adereços acabam caindo, seja por conta de chuva, do transporte apertado ou, por conta do tamanho, e para garantir a beleza que vemos nas telas, mulheres com agulha e linha nas mãos, consertam as fantasias ali mesmo, enquanto aguardam para entrar no sambódromo.


Tudo nos desfiles conta ou tira pontos; é preciso dedicação, empenho, pois são muitas as coisas que precisam funcionar. A chuva muito comum nessa época do ano pode ser o pior dos acontecimentos. Carros alegóricos quebram, pessoas faltam ou passam mal em razão do calor, enfim, são tantas vírgulas, porquês e talvez, por se tratar, também, de uma competição onde tudo é motivo para a disputa.


Mas, nem todo carnaval ocorre nos sambódromos, tão pouco, é competição. Há também  os blocos de carnaval, cada dia mais populares e ocorrendo em mais lugares. A cidade de São Paulo tem hoje um número considerável de blocos, de acordo com a Agencia Brasil:


O Carnaval de rua de São Paulo tem crescido exponencialmente nos últimos anos. A festa popular, que contava com menos de 50 blocos em 2013, passou a ter mais de 500 cordões cadastrados em 2024 e deverá atrair 15 milhões de pessoas, segundo a prefeitura. Segundo o pesquisador Guilherme Varella, o aumento excepcional dos foliões nas ruas paulistanas passou a ocorrer quando a festa foi desburocratizada e vista, pela administração municipal, como um ativo cultural da cidade. “O carnaval de rua é a forma mais radical de ocupação cultural da cidade”, destaca Varella que é professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O crescimento da festa popular nas ruas da maior cidade do país já despertou muitas discussões, todavia, continua crescendo, levando milhares de pessoas às ruas e exigindo das autoridades que melhorem as condições. O carnaval de rua em São Paulo passou a ser tratado como ativo cultural e isso fez toda a diferença para o crescimento da festa nas ruas da urbe.


As ruas da cidade de São Paulo, nem sempre receberam os foliões como faz hoje; houve tempo em que as ruas do centro da cidade eram ocupadas apenas pelas elites. De acordo com a pesquisadora Janete Leiko Tanno, que estudou a rua enquanto espaço de laser tendo como recorte temporal de 1920-1945, afirma o seguinte:


Em São Paulo, durante os festejos carnavalescos, diversas ruas do centro da cidade eram ocupadas para desfiles do corso e também das grandes sociedades carnavalescas realizados pela elite paulistana. As ruas centrais formavam o espaço privilegiado para o carnaval dos pertencentes a esse segmento social. Em outros bairros, blocos, ranchos e cordões, aglutinavam os populares e a classe média, para a folia de momo.


As ruas são espaços públicos, todavia, nem sempre os usos são iguais, esses usos por públicos distintos, levava as pessoas de menor poder aquisitivo para as ruas da periferia. A festa mais popular, ainda que esteja nas ruas, tem a distinção das classes, seja através dos camarotes, seja através dos abadás, seja através dos itens consumidos. No entanto, ver as ruas ocupadas pelas pessoas, vivenciando essa festa faz com que não nos esqueçamos que a cultura é para todos. As ruas são lugares de memórias, de histórias, de sociabilidades de vivências culturais, de celebração, de protesto, de luta. Para Janete Leiko Tanno:


A rua enquanto espaço público tem sido usufruída para as mais diferentes funções ao longo dos séculos. Construída para servir como via de circulação para pessoas e veículos, tornou-se também lugar privilegiado para manifestações políticas e culturais dos mais diversos grupos sociais. Embora ganhe visibilidade por essas dimensões é, também, um espaço de lazer, para conhecer pessoas, para chamar atenção para si ou para as ideias ali veiculadas por diferentes protagonistas.

O carnaval, é tempo de laser para os foliões, seja em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador, no Recife, ou em qualquer outra cidade brasileira, é uma festa linda e cheia de vida. Ocupar as ruas para viver o carnaval é também resistência. Carnaval de rua é festa para todos, viva a democracia das ruas.


 

Referências:


BOCHINI, Bruno. SP: carnaval na rua como ativo cultural foi chave para festa explodir. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-02/sp-carnaval-na-rua-como-ativo-cultural-foi-chave-para-festa-explodir. Acesso em: 14.Fev. 24.

TANNO, Janete Leiko. A RUA COMO ESPAÇO DE SOCIALIZAÇÃO E LAZER. SÃO PAULO (1920-1945). IN: Patrimônio e Memória. UNESP – FCLAs – CEDAP, v. 5, n.1, p. 64-80 - out. 2009. Disponível em: https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/86/516. Acesso em: 14.Fev. 24.


*Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP/USP).



Gostou do texto? Então não deixe de clicar no coração aqui embaixo e de compartilhar. E deixe seu comentário ou dúvida!


21 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page