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  • Foto do escritorLuzimar Soares

O valor do tempo!

Guarulhos, 15 de janeiro de 2024.

*Luzimar Soares


            Para entender o valor de um ano:

Pergunte a um estudante que não passou nos exames finais;

Para entender o valor de um mês:

Pergunte a mãe que teve um filho prematuro;

Para entender o valor de uma semana:

Pergunte ao editor de uma revista semanal;

Para entender o valor de uma hora:

Pergunte aos apaixonados que estão esperando o momento do encontro;

Para entender o valor do minuto:

Pergunte a uma pessoa que perdeu o avião, o trem, ou o ônibus;

Para entender o valor de um segundo:

Pergunte a uma pessoa que sobreviveu a um acidente;

Para entender o valor de um milissegundo:

Pergunte a uma pessoa que ganhou a medalha de prata nas olimpíadas;

O tempo não espera por ninguém.

Valorize cada momento de sua vida.

Autor desconhecido.

           

Há alguns anos, em um domingo, ouvi um ator famoso em um programa dominical recitar o “poema” acima. Fiquei buscando lugares onde eu pudesse ouvir de novo, porque me chamou a atenção como o tempo é desmembrado para falar sobre cada uma das denominações que damos ao tempo e assim, colocar para cada uma dessas denominações um sentido diferente.




Crédito da imagem: Wix.


Bem, o tempo no nosso tempo parece ter uma nova forma de passar, vivemos o tempo todo conectados, trabalhando mesmo após o expediente, em virtude da pressão gigante para sermos produtivos.


Quando somos crianças, acreditamos que o tempo deveria passar rápido, sonhamos com a maioridade para termos liberdade, para irmos ao cinema, namorarmos, dirigirmos, bebermos, irmos às festas, achando que seremos donos de nós mesmos ao atingirmos a maioridade e, com o passar dos anos nos colocamos em um outro lugar no tempo.


O lugar onde nos colocamos é o de adultos, e isso exige de nós muitos compromissos, trabalho, estudo, crescimento, ganhar posição e dinheiro e os sonhos de criança dão lugar às obrigações. Por infinitas vezes nos deixamos levar pelas cobranças e necessidades da sociedade em que estamos inseridos. Não raro ouvimos que “o tempo voa”, sendo objeto e preocupação de estudiosos.


De Aristóteles a Santo Agostinho de Hume a Kant, muitos são os que já se debruçaram sobre o tema e muitas também são as ciências de filosofia a geografia.  De acordo com Aristóteles: “o tempo é contínuo e infinito”. Em sendo assim, nós que não somos infinitos, seguimos no continuo do tempo, ocupando espaços e criando, talvez na expectativa de sermos eternos. De acordo com o estudioso Marcelo Carbone Carneiro, Santo Agostinho ao relacionar o tempo com a eternidade, fala o seguinte:


Santo Agostinho diz que o passado não existe mais, o futuro ainda não chegou e o presente torna-se pretérito a cada instante. O que seria próprio do tempo é o não ser. O passado existe, por força de minha memória, no presente. Da mesma forma, o futuro existe, por força da expectativa de que as coisas ocorrerão, no presente. E o presente seria a percepção imediata do que ocorre. Os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das coisas futuras e presente das coisas presentes. Portanto, o tempo é subjetivo, pois o modo como nos referimos às coisas depende totalmente de elementos internos (memória, expectativa, sentimento etc.), a apreensão ontológica do tempo não é possível. O que colocamos em relações temporais são impressões mentais - tempo passado, memória; tempo futuro, expectativa; tempo presente, passado presente e futuro presente.

 

Ao longo dos séculos, a humanidade tem se debruçado a compreender o tempo, e muitas vezes sequer percebemos que estamos tentando apreender o tempo como se isso fosse possível. Sentimo-nos impelidos a “dar conta do tempo”, e sermos eficientes, a vencer o tempo, mas isso é possível?


Tempo e lugar estão intimamente ligados em muitos estudos, sendo assim, tempo e lugar são vistos por Kant como sucessivos e não simultâneos. "Ele possui uma única dimensão: diversos tempos não são simultâneos, mas sucessivos (assim como diversos espaços não são sucessivos, mas simultâneos)". Portanto, tempo e espaço fazem parte de nossas vidas de maneira sucessivas e contínuas e utilizar ambos em benefício da humanidade pode ser um desafio que ainda não conseguimos realizar na essência.


Vivemos em sociedade de consumo e de produção de capital e para manter essa produção é preciso que estejamos dispostos a abrir mão do tempo livre e o usarmos na produção. Postergamos o nosso descanso para produzir. Não somos donos das nossas produções, e raramente usufruímos daquilo que produzimos e deixamos de usar o nosso tempo em busca de uma vida mais intensa. Só conhecemos a possibilidade de vivermos assim, produzindo.


Reproduzirei aqui, um poema de Mario Quintana, intitulado:  O Tempo.

 

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é Natal…

Quando se vê, já terminou o ano…

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado…

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

 

O tempo vivido e amado, o tempo que não é simultâneo, o tempo que vivemos o agora, o tempo de amar é hoje, de construir afetos é agora. Ame, viva o tempo. O valor do tempo, cada um dará, de maneira única e dentro de suas subjetividades. O futuro não chegou, o passado, já foi, portanto, presenteie-se com o tempo presente.

 


Referências:

 

CARNEIRO, M. C. Considerações sobre a ideia de tempo em Sto. Agostinho, Hume e Kant Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.8, n.15, p.221-32, mar/ago 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/YqNpJgmC33VMXVNR3jNg4WD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 jan. 24.

 

PENSADOR. O Valor do Tempo. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NjMzMDU/. Acesso em: 12 jan. 24.

 

QUINTANA, Mário. O Tempo. Disponível em:  https://guatafoz.com.br/o-tempo-poema-de-mario-quintana/. Acesso em: 13 jan. 24.



*Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP/USP).



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