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  • Foto do escritorLuzimar Soares

O filme da minha vida

Guarulhos, 01 de março de 2023.

Luzimar Soares *



Nos últimos tempos, especialmente com o advento da pandemia da covid–19, as artes foram a salvação de muitas pessoas. Dias e mais dias trancadas em suas casas, espaços de circulação reduzidos, o tempo que era gasto nos encontros, nas rodas de conversas, foram substituídos por ligações, de áudios ou vídeos. As relações passaram a se desenvolver de outras maneiras, bem como os divertimentos, as horas de lazer tiveram que ser reconstruídas.



Crédito da imagem: Wix.


Desde o nascimento do cinema, muitas coisas aconteceram com a evolução das técnicas, com as tecnologias que permitem cada vez mais gravações e edições. Para os leigos, como quem aqui escreve, muitas vezes, as películas são tão feias que se confundem com a realidade. O estilo de cada filme, o público que atinge é muito particular, todavia, o cinema atinge quase todas as pessoas.


Tenho muitos “filmes da minha vida”. Na primeira vez que fui ao cinema, eu já era adulta e fui levada por mais três colegas de trabalho. Nesse período, recém-chegada em São Paulo (sou cearense), residia e trabalhava na zona Leste. Meus companheiros de jornada de segunda a sábado me convenceram a ir ao cinema no centro da cidade. Refiro-me ao final da década de 1980, mais precisamente o ano de 1989. Naquele período, nenhum de nós tínhamos meios de locomoção que não fosse o público. Trabalhávamos de segunda a sábado.


Munidos da força da jovialidade e do espírito de curiosidade (minha curiosidade), parti junto aos amigos para um cinema que tinha nas proximidades da Praça da República. Como, para mim, cinema era um lugar totalmente desconhecido, a ansiedade foi minha companheira daquele dia. Chegamos ao centro da cidade e tudo era grandioso para mim. Aquela também foi a primeira vez em que estive naquela região no período noturno. Assistimos a dois filmes, um não me recordo o nome, mas o segundo, foi: “A Volta dos Mortos Vivos”.


A experiência foi, digamos, traumatizante. Naquele dia, descobri que morro de medo de filme de terror, mas, como poderia eu saber que tinha medo? Aquela vivência foi magnífica, todos os sentimentos se misturaram, ao mesmo tempo que me senti apavorada com o filme, e imensamente curiosa, afinal, aquele novo mundo, era instigante. Na segunda vez em que fui ao cinema, todas as pessoas estavam indo, foi o lançamento de: “De Volta Para o Futuro – 2”. Tive a sensação de que, definitivamente, estava apaixonada e, indubitavelmente, estava.


O tempo passou, e o cinema se tornou algo bem mais natural na minha vida. Passei a frequentar as salas de cinema sempre que me era possível e, depois de muito tempo, uma película nacional mexeu tanto comigo como o primeiro filme, em outro sentido, por outras razões e em um outro contexto. O filme: “Que horas ela volta?”, visto nas telonas, teve um impacto parecido com o primeiro. A narrativa da obra ficcional é tão parecida com a vida real que foi impossível não traçar comparativos com a vida de muitos migrantes nordestinos que, assim como eu, saíram de lá em busca de um melhor lugar para viver.


Então, veio o ano de 2020 e, com ele, uma infinidade de alterações nas vidas das pessoas, nas relações entre elas e com as artes, os livros, os filmes, as séries, as músicas, bem como novelas e todos os tipos de entretenimentos que podiam ser consumidos em casa e que passaram a ser mais presentes na vida de todos. As salas de cinema ficaram vazias, assim como todos os espaços de aglomeração. Em contrapartida, as telas das televisões passaram a fazer ainda mais parte da cotidianidade.


Muitas pessoas se reinventaram, criaram novas formas de caminhar. Nesse novo espaço de pertencimento, desafios foram postos para preencher os espaços deixados pela nova realidade. Juntamente à amiga e parceira de trabalho Luciene Carris, criamos o Podcast Sarau da Casa Azul, e, no episódio 21, falamos justamente sobre a sétima arte, com o tema: “Cinema como resistência”. Recebemos o estudioso e cinéfilo Edson Kiyoshi Murata, que nos falou sobre esta incrível e magnífica invenção humana.


Esse é um episódio que recomendo muito para cada uma e cada um que gosta de assistir a um filme e entender algumas nuances. O convidado recebido por nós ministra cursos para quem quer se aprofundar e compreender a história do cinema, desde os primórdios com os irmãos August Marie Lumière e Louis Nicholas Lumière, os criadores da arte que, hoje, é universal. Em todos os lugares, mais ou menos, as pessoas veem filmes, muitos até criam e dirigem filmes.


Voltando ao filme da minha vida, na primeira década desse século, fui convidada para assistir um filme chamado “Oldboy”, uma película sul-coreana que me prendeu do início ao fim. Na verdade, este é um dos mais marcantes filmes que já assisti. Todavia, fazendo uma breve volta às telas para olhar os grandes filmes, aquele que me marcou para sempre é: “Django Livre”. Ainda consigo ver as cenas com tanta clareza, nitidez e realidade que, muitas vezes, parece real e não um filme.


Gostaria de salientar que não sou estudiosa de cinema, tampouco uma entendida de técnicas de direção, iluminação, atuação e ̸ ou qualquer outra coisa que pareça. No entanto, sou uma amante das artes, e a sétima fica atrás, apenas, da literatura. De todo modo, assistir a um filme, aquele que te agrada, não o que os outros gostam, mas o estilo e o cinema que você gosta, certamente trará uma bela discussão depois.


De maneira geral, o cinema, depois que o descobri, ele anda comigo. Nas telonas, os clássicos, os atemporais, os inéditos, os históricos, os românticos, as comédias, os nacionais, os hollywoodianos, os argentinos, etc. etc. e etc., me trazem sempre a certeza de que a vida sem arte é simplesmente impossível. Mas, não tenho um filme que chamo de meu, tenho vários. Porém, dois são, indiscutivelmente, maravilhosos: “Daens - Um Grito de Justiça” e “Queimada!”.


Esse pequeno texto é uma espécie de indicação de filmes críticos do sistema de maneira geral, mas também é uma forma de dizer que, muitas vezes, estudar história pode ser possível através das películas que, ludicamente, pode denunciar situações, bem como fazer com que as pessoas entendam uma época.


Viva o Cinema, Viva a Sétima Arte!


Referências:

A VOLTA dos Mortos Vivos. Direção: Dan O'Bannon. Produção: Fox Broadcasting Company. Estados Unidos: Denholm Trading Inc, 1985. DVD.

CORINGA. Direção: Todd Phillips. Produção: Village Roadshow Pictures. Estados Unidos: Warner Bros, 2019. DVD.

DAENS – UM GRITO DE JUSTIÇA. Direção: Stijn Coninx. Produção: Dérives Productions. Bélgica/Países Baixos: Universal Pictures Video, 1993. DVD.

DE VOLTA para o Futuro – 2. Direção: Robert Zemeckis. Produção: Universal Pictures, Amblin Entertainment. Estados Unidos: Universal Studios, 1985.

DJANGO Livre. Direção: Quentin Tarantino. Produção: A Band Apart. Estados Unidos: Columbia Pictures, 2012. DVD.

MURATA, Edson Kiyoshi. Cinema como resistência. Podcast Sarau da Casa Azul. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/3MxYJZopHwpHu9ak4qd1AB?si=e5d84b4d4dcd45c9 Acesso em: 28 fev. 2023.

OLDBOY. Direção: Park Chan-Wook. Produção: Egg Film e CJ Entertainment. Coreia do Sul: Show East, 2003. DVD.

QUE horas ela volta? Direção: Anna Muylaert. Produção: Globo Filmes. Brasil: Pandora Filmes, 2015. DVD.

QUEIMADA! Direção: Gillo Pontecorvo. Proodução: Produzioni Europee Associati. Itália: United Artists, 1969. DVD.


*Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP/USP).

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