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A humanidade e a dificuldade de seguir regras.

Guarulhos, 15 de janeiro de 2022.

Luzimar Soares*


A contemporaneidade tem nos mostrado muitas mudanças. A revolução digital proporcionou algo que nós, nascidos no século passado, quando ainda estávamos na nossa infância / adolescência, sequer ousávamos supor. Os filmes futuristas com carros voadores e telefonemas por vídeos chamadas eram algo que encantava. Recordo-me de um protagonizado pelo ex-governador da California – Estados Unidos da América - Arnold Schwarzenegger e a impagável Sharon Stone, intitulado “O Vingador do Futuro”. Em uma cena, acontece uma conversa telefônica em que o atendimento é feito pelo aparelho de televisão ou algo parecido. Sempre lembro desse quadro do filme, achei impressionante e pensei: como seria bom falar com alguém olhando para ela, mesmo que ela estivesse longe.


Crédito: Wix.


Bom, saltando para 2022, hoje, conversamos usando aparelhos de televisão. Os carros, ainda, não voam na sua literalidade, mas temos aparelhos que realizam sozinhos quase todas as tarefas, de acender as luzes a programar o despertar, passando por limpar a casa, dentre tantas outras funções. Mas, e nós, os humanos, como estamos nos portando? Temos muita tecnologia, e a empatia, a solidariedade, a alteridade? Sabemos nos comportar nos lugares seguindo as regras e respeitando o direito do outro?


Vivemos, hoje, uma pandemia mundial que já dura mais de dois anos, ou seja, algumas regras de comportamento e utilização dos espaços públicos mudaram em razão dessa nova condição de vida e de interação das pessoas. Uma dessas regras é a obrigatoriedade do uso de máscara, especialmente em espaços fechados. No estado de São Paulo, o uso obrigatório foi proferido através do DECRETO N˚ 64.959 de 04 de maio de 2020, o que, basicamente, dá o tempo de dois anos.


Não é preciso muito para percebermos que o decreto não é obedecido por grande parte, aliás pela maioria das pessoas. Os comércios são obrigados a exigir o uso da máscara dos clientes, todavia, invariavelmente, ao adentrarmos as lojas, sejam elas quais forem, muitos dos funcionários não usam, e os que utilizam, fazem-no de maneira errônea, sem cobrir adequadamente nariz e boca como é mandatório. Teoricamente, a máscara está sendo utilizada, no entanto, obviamente que não tem nenhuma efetividade.


Quando são questionadas sobre a forma correta de utilização, as desculpas utilizadas, às vezes, dão a impressão de que se trata de pessoas que têm dificuldades de compreensão da realidade. Desde o clássico: “não consigo respirar direito com essa máscara”; perpassando por: “tenho asma”; “embaça meus óculos”; chegando ao negacionismo total e culminando com a frase mais inacreditável que ouvi até o momento: “se máscara funcionasse, os médicos não se contaminariam”.


Considerando cada um seu “direito de ir e vir”, evocam a necessidade de não utilizar uma peça que já é de uso comum em muitos países por pessoas que se encontram em momentos de vulnerabilidade de saúde e que podem transmitir algum vírus. Essas pessoas usam a proteção apenas para não infectar seus familiares e colegas de trabalho, ou, até mesmo, quaisquer desconhecidos que cruzarem seu caminho. Mas, quando a utilização se tornou obrigatória no mundo todo, os “rebeldes”, de argumentos em punho, se recusaram a utilizar.


Os cientistas do mundo todo estudam noite e dia a eficácia da máscara para conter a propagação do vírus. Em 19 de agosto de 2021, o portal g1 de notícias publicou estudos justamente para combater a fala de autoridades brasileiras que se recusam a utilizar, quiçá incentivar os cidadãos a fazerem o uso. Nesse estudo publicado na revista “Science” em junho de 2021, é afirmado que:


As máscaras protegem as pessoas de duas maneiras: Se a pessoa está infectada com o coronavírus, a máscara reduz a emissão e disseminação do vírus. Se a pessoa está em contato com alguém infectado, a máscara faz uma barreira, reduzindo a inalação do vírus respiratório transportado pelo ar.


Todavia, em momentos de negacionismo, acreditar na ciência não parece ser algo que muitos estão dispostos a fazer. Desde que a pandemia da Covid – 19 teve início, as teorias da conspiração, os negacionismos e, acima de tudo, o egoísmo são coisas que estão na nossa cotidianidade. Médicos, pesquisadores, cientistas, infectologistas, estudiosos de várias áreas explicam com dados, com comprovação em cima de longos estudos, todavia, não são ouvidos.


Cotidianamente, as pessoas são alertadas para a utilização correta da máscara de proteção. Ela deve cobrir totalmente o nariz, a boca e o queixo, estar bem ajustada ao rosto, não pode ser bandana, não pode ser de tricô, dentre outros detalhes. A ANVISA tem descrito, em seu site, todas as informações sobre permissão de uso de máscara para viajar de avião por exemplo. Em um texto longo, é explicitado o que não é lícito e o que é permitido utilizar para proteger nariz e boca.


Bandanas, lenços e protetores faciais do tipo “face shield” usados sem máscaras por baixo não serão permitidos, assim como máscaras de acrílico ou de plástico transparente e as que possuem válvula de expiração, mesmo que sejam profissionais. As máscaras de tecido confeccionadas artesanal ou industrialmente com material como algodão e tricoline continuam permitidas, mas devem possuir mais de uma camada de proteção e ajuste adequado ao rosto.


Imagina-se que as pessoas leiam essas regras e as seguem, permitindo, assim, que se continue com a mobilidade natural, para que não tenhamos mais a necessidade de fazermos isolamento social, para que possamos dar continuidade na vida com o que se convencionou chamar de “novo normal”. Mas, na realidade do dia-a-dia, isso não acontece. As pessoas tiram suas máscaras, usam-nas somente nos queixos, mas, especialmente, há a modalidade do nariz de fora. A máscara é ajustada exatamente embaixo no nariz para permitir “respirar melhor”.


Seja no avião, na loja, no hotel, no ônibus, no shopping center, seja no elevador do seu prédio, a utilização da máscara pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Ainda não sabemos como cada organismo reage a este novíssimo vírus. Portanto, sigamos as orientações da ciência. Como diz Emmanuel Lévinas, “a alteridade é fundamental”, do contrário, a humanidade está fadada à extinção.


Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP).


Referências:

LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/08/19/eficacia-das-mascaras-contra-a-covid-19-e-comprovada-pela-ciencia-veja-o-que-dizem-quatro-estudos.ghtml

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/coronavirus/regras-para-o-uso-de-mascaras-nos-aeroportos-e-avioes

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