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Foto do escritorLuzimar Soares

Necessidade de ócio

Guarulhos, 03 de janeiro de 2024.

*Luzimar Soares


Chegamos ao fim de mais um ano e, para onde quer que olhemos, há pessoas apressadas, o trânsito das grandes cidades fica sempre caótico, (mais do que já é), como se absolutamente todas as pessoas estivessem com muita pressa. Pressa de chegar, de sair, de ser atendido, de falar, de saber, de decidir.


Estradas, portos, aeroportos, rodoviárias, tudo está cheio e, dependendo de como olhamos, algumas vezes, podemos dizer que tem um “mar de gente” ou um “formigueiro humano”. São tantas pessoas indo e vindo nos mesmos espaços que muitos se perdem. Perdem-se de suas famílias, nos lugares, sem saber para onde ir, perdem seus ônibus, seus voos, as saídas nas estradas ou até as horas.


No ano de 2023, perdemos o criador do conceito do ócio criativo, o italiano, Domenico de Masi, ele que foi um estudioso que se dedicou às questões sociais dos trabalhadores. Fim de ano, sempre pensamos nas férias e, quem tem filhos em idade escolar, precisa fazer programação de viagens que estejam em consonância com as férias escolares para assim poderem desfrutar em família dos momentos de lazer. Essa programação não considera exatamente o ócio criativo pensado pelo intelectual italiano, mas as necessidades de cada um de sair da rotina de trabalho.




Crédito da imagem: Wix.


Atualmente, se considerarmos a quantidade de trabalho que basicamente todos os profissionais têm, trabalhamos muito mais do que oito horas por dia. Muitos são os profissionais que levam trabalho para casa e, na era da tecnologia avançada, estamos basicamente o tempo todo à disposição dos nossos empregadores, seja através de trabalhos que executivos levam para casa, sejam os trabalhadores de home office que ultrapassam seus horários sem se importar pois estão no conforto de suas casas, sejam as muitas comunicações que as empresas enviam a seus funcionários, pois isso se tornou a maneira de comunicação de muitas empresas, especialmente aquelas de grande porte, onde existe uma distância enorme entre a direção da empresa e os funcionários da ponta.


Sendo assim, as pessoas de maneira geral, não estão muito preocupadas em criar quando planejam suas férias, elas querem chegar aos seus destinos, descansarem, reverem seus amigos, parentes, e confraternizarem. Viajam por uma infinidade de motivos, querendo descansar. Corpo e mente necessitam se afastar das obrigações cotidianas e apenas viver. É preciso ter vida na vida de cada um. A rotina de trabalho muitas vezes tira o brilho de viver e exerce sobre cada trabalhador tanta obrigatoriedade de fazer o trabalho com excelência que muitos adoecem, pois é preciso produzir.


Viajar é uma das formas de sair da rotina diária e pode ser um programa maravilhoso e na grande maioria das vezes o é, todavia, é preciso que nos desobriguemos dos horários. Isso quase nunca fazemos e, mesmo quando estamos de férias, ficamos o tempo todo em função dos horários e, porque não dizer, das coobrigações. É preciso que nos desliguemos. O século XXI está acelerado, todos dizem que o tempo está passando muito rápido, que não temos tempo para nada, e parece mesmo que não temos.


Enquanto humanos precisamos de descanso, recuperar energias, socializar, dar aos nossos corpos alívio do peso dos afazeres, tecer redes de amizades e mantê-las com encontros afetuosos. Vejamos o que diz o conceito de ócio criativo:


É um conceito que surgiu no ano 2000 com a publicação do livro de mesmo nome do sociólogo italiano Domenico De Masi. Em sua narrativa, ele encara o ócio como um tempo livre ou um equilíbrio justo entre trabalho, estudo e descanso, sendo uma forma de recuperar o fôlego para atividades que exijam foco e, claro, criatividade. Ao usufruir desse direito por meio de atividades de lazer, bem-estar físico e mental, da companhia de amigos e entes queridos ou de descanso, a capacidade inventiva é renovada, abrindo espaço para melhorar o desempenho em atividades-chave, como o trabalho.

 

Sendo os momentos de descansos tão importantes, qual a razão de quando saímos para descansar estarmos sempre com pressa? Bem cada pessoa carrega em si as suas próprias características e razões para seguir sem desacelerar, no entanto, estamos nos distanciando daquilo que ao meu ver, é uma das principais razões pelas quais devemos lutar: os nossos afetos. É preciso que tenhamos tempo para aqueles que nos acolhem, é necessário acolhermos a quem amamos. As férias e o ócio podem ser para isso também, mas especialmente devem ser para desacelerarmos, literalmente tiramos o “pé do acelerador e nos permitirmos puxar o freio de mão”.




Crédito da imagem: Amazon.



Os momentos de lazer e descanso podem acontecer em muitos lugares, no paraíso que sonhamos conhecer, numa praia vizinha, na cachoeira mais próxima, no quintal de casa, na casa de amigos, familiares, na calçada de casa ou do prédio, com muitas pessoas, ou até sozinhos. Mas, é imperioso que esses momentos existam com mais frequência. Estamos imersos em produção e muitas vezes nos esquecemos de apenas não fazer nada.


 Talvez para as pessoas que trabalham demais, seja preciso tirar férias delas mesmas. Ou seja, desligar do mundo do trabalho e virar a chave para o não fazer, para o ócio, seja ele criativo ou não, cada um encontra um caminho de usufruir dos momentos de não trabalho e, não trabalhar, não produzir, não estar disponível para a produção no mundo atual pode ser assustador. Nos deparamos cada vez mais com pessoas que produzem sempre. E na era do “você tem que ter sucesso”, ou “se você não tem sucesso é porque não se esforçou o


Este ensaio é apenas para dizer: viva o não fazer nada, viva o tempo de descanso, viva a vida que tem na sua vida, viva o direito de não produzir, viva a beleza de um pôr do sol à beira mar, ou um nascer do sol nas montanhas, ou até, viva a leitura do livro que você ganhou de presente de Natal. Que possamos no meio do capitalismo que parece nos engolir e nos obrigar a produzir, ter momentos para apenas contemplar a beleza que é viver. Viva as férias.

 

 

Referências:

DE MASI, Domenico.  O Ócio criativo. IN: entrevista a Maria Serena Palieri.  tradução de Léa Manzi. - Rio de Janeiro: Sexante, 2000.

Você conhece o conceito de ócio criativo? Entenda a importância. Publicado por HSM University, em 25 de maio de 2021, atualizado em 27 de outubro de 2022. Disponível em: https://blog.hsmuniversity.com.br/ocio-criativo/#:~:text=continuar%20a%20leitura!-,O%20que%20%C3%A9%20%C3%B3cio%20criativo%3F,soci%C3%B3logo%20italiano%20Domenico%20De%20Masi. Acesso em 22 Dez. 23.



*Luzimar Soares é historiadora (PUC-SP/USP).


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